sábado, 17 de outubro de 2015

Amor de Perdição - Resumo e Releitura


O romance "Amor  de Perdição" de Camilo Castelo Branco conta a história de Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, que se apaixonam e vivenciam um amor proibido, pois pertencem a  famílias que se odeiam. Simão e Teresa são vizinhos, e namoram através das  janelas de suas casas, que são próximas. A família de Teresa, na tentativa de impedir o relacionamento dos dois, busca, a todo custo, arranjar o casamento dela com um primo, Baltasar. Como Teresa não se interessa pelo primo, ela acaba sendo internada em um convento.

Sabendo que Teresa estava em um convento, Simão decidiu hospedar-se  na casa de um ferreiro, João da Cruz, o qual devia favores a seu pai e estava disposto a ajuda-lo no que fosse preciso. O ferreiro tem uma bela filha, Mariana, que acaba se apaixonando por Simão. De certa maneira, Simão se interessa por Mariana, forma-se então o triângulo amoroso.
Teresa e Simão mantêm contato por meio de cartas. Na tentativa de resgatar Teresa do convento, Simão acaba baleando Baltasar, primo de Teresa, com o qual ela deveria se casar, e é condenado ao degredo, na Índia.
No momento em que Simão embarca para o degredo, acompanhado de Mariana, que fez questão de acompanha-lo, provando assim o amor que sentia por ele, Teresa morre de tuberculose, no convento.
Nove dias após o embarque, Simão adoece e acaba morrendo, também. Quando o corpo de Simão é lançado ao mar, Mariana joga-se da embarcação e abraça-se ao corpo do amado, as cartas que  Teresa enviara a Simão boiam nas águas, pois poucos minutos antes de morrer ele pedira a Mariana que lançasse as cartas enviadas por Teresa ao mar.


RELEITURA - A MINHA VERSÃO

AMOR DE PERDIÇÃO, UM EQUÍVOCO
O Romance "Amor de Perdição" está muito mal contado para o século XXI. Ao meu ver houve um equívoco, pois o destino dos três personagens, que formam o triângulo amoroso, Simão, Teresa e Mariana, foi muito trágico. Na verdade, não foi como o Camilo narrou. Eles tiveram destinos bem diferentes.
Teresa fugiu com Simão para Coimbra, lá eles tiveram dois filhos. Passados alguns anos, descobriram que a ardente paixão foi um ledo engano. Entraram em crise conjugal. Simão desiludido conheceu Mariana, por quem se apaixonou. Decidiu, no primeiro momento, que ficaria com as duas, até porque, não achava justo abandonar a mãe dos seus filhos. Mas devido à situação financeira, que era precária, não havia a menor possibilidade de assumir e sustentar as duas, então ele as abandonou e caiu na boemia.
Mariana virou uma feminista, comandou vários movimentos, foi às ruas brigar pelo direito de igualdade...
Tereza foi mais infeliz, com dois filhos para cuidar, voltou para a casa do pai, do qual aguentou muitas humilhações, mas como era um homem muito influente, conseguiu comprar-lhe um marido, que não era lá essas coisas, mas arcava com as responsabilidades da casa.
Teresa descobriu que o amor não é tão lindo, como contam os romances.
Simão descobriu que musas perfeitas e mulher ideal, só na cabeça dos românticos.
Mariana descobriu que homens fieis e amor eterno, só em romance, e que, homem que vai para o degredo por causa de uma mulher, é aquele que nunca saiu das páginas de Amor de Perdição.
Sônia Laide

sábado, 10 de outubro de 2015

Análise do poema "A mesa" (João Cabral de Melo Neto)

A mesa

O jornal dobrado
sobre a mesa simples;
a toalha limpa,
a louça branca

e fresca como o pão.

A laranja verde:
tua paisagem sempre,
teu ar livre, sol
tuas praias; clara

e fresca como o pão.

A faca que aparaou
teu lápis gasto;
teu primeiro livro
cuja capa é branca

e fresca como pão.

E o verso nascido
de tua mão viva,
de teu sonho extinto,
ainda leve, quente

e fresco como pão.

Observamos, no poema "A mesa", um jogo riquíssimo de imagens que vai se desdobrando gradativamente, por meio de comparações que vão sendo feitas com o substantivo "pão". A mesa,  a louça, a capa do livro e, por fim, o verso, todos esses elementos são comparados as frescor do pão. Observamos, também, que estes elementos divergem e convergem entre eles. Temos a fragilidade da louça que se opõe à resistência da mesa, mas ao mesmo tempo, tanto a louça quanto a mesa possuem uma claridade em comum, evidenciada pela toalha limpa, a  qual está sobre a mesa, e pela cor branca que está sobre a louça e, simultaneamente adquirem a característica do pão "fresca como o pão".

Nota-se a oposição entre a imagem da "mesa" e a imagem do "verso", sendo que a primeira é inanimada, ou seja, faz parte de uma natureza morta. Já a segunda é viva e leve. Mas é sobre a mesa que se escreve o poema  e coloca-se o pão. O pão que em seu sentido denotativo alimenta o físico humano, e o "pão-verso" , "pão-poema", sentido conotativo, alimenta o intelecto.

Percebe-se que, no poema, aos poucos o poeta vai tecendo imagens de uma manhã  viva, a qual pode ser associada à vivacidade do verso. Em um primeiro momento, temos uma imagem, aparentemente, comum. O jornal dobrado, o pão fresco, a louça: todas essas imagens sugerem a mesa posta para o café da manhã.

Mas, na quinta estrofe há uma ruptura, que pode ser percebida por meio do seguinte verso "A faca que aparou teu lápis". Aqui temos uma quebra, não só de imagens, mas, também de sentido, pois, a partir desse verso, podemos construir uma outra leitura, que não mais estará ligada à imagens do cotidiano, mas sim ao aprender, ao ato de escrever. O vocábulo "faca" tanto nos remete a ideia da língua quanto a ideia da linguagem. Temos também o "lápis" e a capa branca do livro, que nos remete a folha de papel em branco.

Na sétima estrofe, o poema sai de  um forma estática e ganha vida, com o surgimento dos vocábulos "verso" e "manhã". Estes vão concretizar a imagem sugerida na primeira estrofe e retomada, na terceira estrofe, através do vocábulo "sol". Percebemos, então, que a manhã foi sendo tecida aos poucos, até chegar a um todo (tecido). Nota-se que a estrutura da estrofe se altera em relação as outras, pois todos os versos possuem o mesmo ritmo e são compostos por seis sílabas poéticas, o que indica uniformidade.

O poema parte de um elemento concreto, a mesa, para elementos abstratos: o sonho, o leve, o quente e o fresco, e retorna para o concreto, o verso.  Porém o verso, na folha de papel é tão concreto quanto a mesa, apenas com uma diferença, ele é "vivo". Podemos concluir que os vocábulos convergem e divergem entre eles para alcançar o significado desejado pelo poeta.

Surge a manhã, nasce o verso, ambos vivos, leves, quentes e frescos como o pão. Com isso podemos afirmar que se trata de um metapoema, pois estamos diante da descrição do fazer poético. 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A PERSPECTIVA CAMONIANA HOJE

Podemos afirmar que Camões é um poeta atual, pois abordou em suas obras temas universais como o amor; o questionamento, a angústia, a mágoa e a dor dos seres humanos; o desconcerto do mundo, entre outros. Tais temas transcendem os limites do tempo e do espaço. E, é por meio deles que Camões externa em  suas poesias todos os conflitos, inquietações e questionamentos pertinentes ao ser humano.

Se analisarmos a obra Camoniana frente a uma obra contemporânea perceberemos a influência da primeira sobre a segunda, pois assim como Camões se deixou influenciar por autores anteriores a ele, os autores que vieram "pós-Camões" acabaram incorporando traços camonianos.

Podemos comprovar a ideia citada, por meio dos poemas "Pois meus olhos não cansam de chorar" de Luiz Vaz de Camões e "Este livro" de Florbela Espanca. 

Observamos que o mesmo tema abordado por Camões no século XVI é retomado por Florbela no século XX.


Pois meus olhos não cansam de chorar
Tristezas não cansadas de cansar-me;
Pois não se abranda o fogo em que abrasar-me
Pôde quem eu jamais pude abrandar;

Não canse o cego Amor de me guiar
Donde nunca de lá possa tornar-me;
Nem deixe o mundo todo de escutar-me,
Enquanto a fraca voz me não deixar.

E se em montes, se em prados, e se em vales
Piedade mora alguma, algum amor
Em feras, plantas, aves, pedras, águas;

Ouçam a longa história de meus males,
E curem sua dor com minha dor;
Que grandes mágoas podem curar mágoas.




ESTE LIVRO ... 

Este livro é de mágoas. Desgraçados 
Que no mundo passais, chorai ao lê-lo! 
Somente a vossa dor de Torturados 
Pode, talvez, senti-lo ... e compreendê-lo.

Este livro é para vós. Abençoados 
Os que o sentirem , sem ser bom nem belo!
 Bíblia de tristes ... Ó Desventurados, 
Que a vossa imensa dor se acalme ao vê-lo! 

Livro de Mágoas ... Dores ... Ansiedades! 
Livro de Sombras ... Névoas e Saudades! 
Vai pelo mundo ... (Trouxe-o no meu seio ...) 

Irmãos na Dor, os olhos rasos de água, 
Chorai comigo a minha imensa mágoa, 
Lendo o meu livro só de mágoas cheio! ..

Verificamos nos poemas que os vocábulos "dor" e "mágoa" acentuam o sofrimento do eu-lírico, que deixa transparecer uma profunda tristeza. Essa tristeza, ao mesmo tempo que é particularizada (centrada no eu) é também generalizada, como podemos observar nos seguintes versos:
 "chorai comigo a minha imensa mágoa"/"Somente a vossa dor de torturados" - Florbela
"Ouçam a longa história dos meus males"/Cure a sua dor com a minha dor," - Camões
Ambos colocam a dor e a mágoa como sentimento inevitáveis, pois fazem parte da realidade humana.

Notamos que no poema de Camões os pronomes possessivos "sua" e "minha" funcionam como um espelhamento (ver a sua dor, através da dor do outro) e também acentuam a ideia da dor como um sentimento comum a todas as pessoas.

Já no poema de Florbela, percebemos a utilização da expressão "irmãos na dor" que nos remete à ideia de identificação de "dores". E no quarto verso da segunda estrofe "Que a nossa imensa dor se acalme ao vê-lo", temos a mesma questão citada anteriormente, no pema de Camões, ou seja, a tentativa de amenizar a dor, olhando a dor do outro (a mesma questão do espelhamento).

Evidencia-se, por meio dos poemas lidos, que a dor, o sofrimento e a mágoa são sentimentos inerentes a todos nós. E a única forma de amenizar esses sentimentos negativos é compartilhando os com o outro e observando a dor alheia, pois sempre existe alguém com uma mágoa, ou uma dor igual, ou maior que a nossa.

Concluímos, então, que dois autores de épocas distintas, aproximam-se pelo tema, pela estrutura textual e pelo próprio discurso, por isso podemos dizer que o poema de Camões é tão atual quanto o de Florbela. Com isso, podemos afirmar que é possível trazer Camões aos dias de hoje, comparando seus poemas com poemas atuais e mostrando que apesar das grandes mudanças, do avanço tecnológico e das diferentes épocas da nossa história, o ser humano continua o mesmo, ou seja, faz os mesmos questionamentos e vive os mesmos conflitos, os quais foram perpetuados desde a sua criação.

O homem, em sua essência, não mudou. Ele é o mesmo, aquele do século XVI, por isso podemos dizer que Camões escreveu "ontem" o hoje.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Parcialmente Nublado - Estratégia

Parcialmente Nublado - Estratégia

O filme pode ser utilizado para discutir a prática pedagógica e a necessidade de utilizar novas estratégias, constantemente.
No cotidiano escolar, recebemos, enquanto professores e gestores, diversos tipos de alunos e temos de aprender a lidar com todos eles, aceitando as diferenças e buscando meios de trabalhar com cada uma delas, entendendo que, para que haja um aprendizado significativo, temos de nos adaptar às necessidades dos alunos.
"O professor como ser inconcluso deve aprender, não somente para adaptar, todavia para transformar a realidade, num processo de recriação e intervenção. A prática educativa “demanda a existência de sujeitos, um que, ensinando, aprende, outro que, aprendendo, ensina, daí o seu cunho gnosiológico” (FREIRE, 2009).
O trabalho do professor é exaustivo. Temos uma tendência a achar que só nós enfrentemos dificuldades... Mas, no final, temos a recompensa do nosso trabalho, o carinho e a admiração de quem nos observou...Pense nisso!

domingo, 27 de setembro de 2015

Utilizei o  artigo de opinião "Corrupção cultural ou organizada?" do então ministro de Educação, Renato Janine Ribeiro, professor titular de Ética e Filosofia Política do Departamento de Filosofia da USP, para discutir com os alunos da 3ª série do ensino médio. 
Pré-leitura: 
Perguntas feitas aos alunos antes de fazer a leitura do texto.
Como vocês definem os dois tipos de corrupção?
Exemplifiquem corrupção cultural e corrupção organizada.
Qual delas causa maior revolta nas pessoas?

Como alguns alunos citaram como exemplo furar fila, subornar o guarda de trânsito, comprar e vender votos, em época de eleições... Perguntei: "Vocês se consideram corruptos?"  

Obs. Não é necessário que os alunos respondam a essa pergunta, o importante é que reflitam sobre ela, antes de iniciar a leitura do texto.

REFLEXÃO: Como cidadãos, "precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções "culturais" nos leve a ignorar a grande corrupção."


Continuação da atividade: Faz-se a leitura do texto, para confirmação das hipótese, e após a leitura realiza-se um debate, a partir dos questionamentos e reflexões feitos pelos alunos, ou motivados pelo professor.

Corrupção cultural ou organizada?
FICAMOS MUITO atentos, nos últimos anos, a um tipo de corrupção que é muito frequente em nossa sociedade: o pequeno ato, que muitos praticam, de pedir um favor, corromper um guarda ou, mesmo, violar a lei e o bem comum para obter uma vantagem pessoal. Foi e é importante prestar atenção a essa responsabilidade que temos, quase todos, pela corrupção política -por sinal, praticada por gente eleita por nós.
Esclareço que, por corrupção, não entendo sua definição legal, mas ética. Corrupção é o que existe de mais antirrepublicano, isto é, mais contrário ao bem comum e à coisa pública. Por isso, pertence à mesma família que trafegar pelo acostamento, furar a fila, passar na frente dos outros. Às vezes é proibida por lei, outras, não.
Mas, aqui, o que conta é seu lado ético, não legal. Deputados brasileiros e britânicos fizeram despesas legais, mas não éticas. É desse universo que trato. O problema é que a corrupção "cultural", pequena, disseminada -que mencionei acima- não é a única que existe. Aliás, sua existência nos poderes públicos tem sido devassada por inúmeras iniciativas da sociedade, do Ministério Público, da Controladoria Geral da União (órgão do Executivo) e do Tribunal de Contas da União (que serve ao Legislativo).
Chamei-a de "corrupção cultural" pois expressa uma cultura forte em nosso país, que é a busca do privilégio pessoal somada a uma relação com o outro permeada pelo favor. É, sim, antirrepublicana. Dissolve ou impede a criação de laços importantes. Mas não faz sistema, não faz estrutura.
Porque há outra corrupção que, essa, sim, organiza-se sob a forma de complô para pilhar os cofres públicos -e mal deixa rastros. A corrupção "cultural" é visível para qualquer um. Suas pegadas são evidentes. Bastou colocar as contas do governo na internet para saltarem aos olhos vários gastos indevidos, os quais a mídia apontou no ano passado.
Mas nem a tapioca de R$ 8 de um ministro nem o apartamento de um reitor -gastos não republicanos- montam um complô. Não fazem parte de um sistema que vise a desviar vultosas somas dos cofres públicos. Quem desvia essas grandes somas não aparece, a não ser depois de investigações demoradas, que requerem talentos bem aprimorados -da polícia, de auditores de crimes financeiros ou mesmo de jornalistas muito especializados.
O problema é que, ao darmos tanta atenção ao que é fácil de enxergar (a corrupção "cultural"), acabamos esquecendo a enorme dimensão da corrupção estrutural, estruturada ou, como eu a chamaria, organizada.
Ora, podemos ter certeza de uma coisa: um grande corrupto não usa cartão corporativo nem gasta dinheiro da Câmara com a faxineira. Para que vai se expor com migalhas? Ele ataca somas enormes. E só pode ser pego com dificuldade.
Se lembrarmos que Al Capone acabou na cadeia por ter fraudado o Imposto de Renda, crime bem menor do que as chacinas que promoveu, é de imaginar que um megacorrupto tome cuidado com suas contas, com os detalhes que possam levá-lo à cadeia -e trate de esconder bem os caminhos que levam a seus negócios.
Penso que devemos combater os dois tipos de corrupção. A corrupção enquanto cultura nos desmoraliza como povo. Ela nos torna "blasé". Faz-nos perder o empenho em cultivar valores éticos. Porque a república é o regime por excelência da ética na política: aquele que educa as pessoas para que prefiram o bem geral à vantagem individual. Daí a importância dos exemplos, altamente pedagógicos.
Valorizar o laço social exige o fim da corrupção cultural, e isso só se consegue pela educação. Temos de fazer que as novas gerações sintam pela corrupção a mesma ojeriza que uma formação ética nos faz sentir pelo crime em geral.
Mas falar só na corrupção cultural acaba nos indignando com o pequeno criminoso e poupando o macrocorrupto. Mesmo uma sociedade como a norte-americana, em que corromper o fiscal da prefeitura é bem mais raro, teve há pouco um governo cujo vice-presidente favoreceu, antieticamente, uma empresa de suas relações na ocupação do Iraque.
A corrupção secreta e organizada não é privilégio de país pobre, "atrasado". Porém, se pensarmos que corrupção mata -porque desvia dinheiro de hospitais, de escolas, da segurança-, então a mais homicida é a corrupção estruturada. Precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções "culturais" nos leve a ignorar a grande corrupção. É mais difícil de descobrir. Mas é ela que mata mais gente.
*Artigo de Renato Janine Ribeiro, 59, professor titular de Ética e Filosofia Política do Departamento de Filosofia da USP. É autor, entre outras obras, de "República" (coleção Folha Explica, Publifolha).