REFLEXÃO SOBRE O QUE É LEITURA


Quando falamos em leitura, no âmbito escolar, o que geralmente vem à mente da maioria das pessoas é uma produção escrita, pensa-se imediatamente em um romance, uma crônica, um conto, enfim, o texto literário surge imediata e prioritariamente. Mas não se pode esquecer de que a leitura é muito mais abrangente, ela não está associada apenas a textos literários, indicados pelos professores de literatura, ou a textos informativos, artigos científicos, entre outros utilizados durante a vida acadêmica.  A leitura relaciona-se à vivência, ao cotidiano e às experiências de cada leitor, aprende-se a ler desde a mais tenra idade, visto que tudo o que está a nossa volta é passivo de leitura: as imagens; os gestos; os sons; as cores; os olhares; as pessoas. Segundo Martins (1994, p.11)

Desde os nossos primeiros contatos com o mundo, percebemos o calor e o aconchego de um berço diferentemente das mesmas sensações provocadas pelos braços carinhosos que nos enlaçam. [...] o cheiro do peito e a pulsação de quem nos amamenta ou abraça podem ser convites à satisfação ou ao rechaço. Começamos assim a compreender e a dar sentido ao que e a quem nos cerca. Esses também são os primeiros passos para aprender a ler
                                                   
De acordo com o texto, as sensações vão dando sentido a tudo o que nos cerca, assim inicia o nosso aprendizado da leitura, portanto ler não é apenas decodificar as palavras, como bem definiu Paulo Freire (1989, p.9)

[...] compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita, ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente.
                                
Afirmar que os alunos não leem foge a essa concepção de leitura, pois fica evidente que aprendemos a ler o mundo que nos cerca, antes de entrarmos em contato com a palavra escrita e isso é imprescindível a nossa formação leitora. Nessa perspectiva, a escola não é o único espaço para a formação do leitor, por isso ela não deve ignorar o aprendizado  que cada aluno traz consigo, quando começa a frequentá-la. Em um sentido mais amplo, a noção de leitura deve ser vista independente do contexto escolar e para além do texto escrito. Vejamos o que escreveu Martins (1994, p.28)

O que é considerado matéria de leitura, na escola, está longe de propiciar aprendizado tão vivo e duradouro (seja de que espécie for) como o desencadeado pelo cotidiano familiar, pelos colegas e amigos, pelas diversões de caráter popular, pelo contexto geral em que os leitores se inserem. Contexto esse permanentemente aberto a inúmeras leituras. Não é de admirar, pois, a preferência pela leitura de coisa bem diferente daquelas impostas na sala de aula, sem a cobrança inevitável, [...]

Uma vez que partimos da leitura da vida para a leitura dos livros, deve-se levar em consideração o contexto no qual o aluno está inserido, bem como suas preferências por determinadas leituras, para que o aprendizado seja dinâmico e prazeroso.
O papel do professor não é o de impor a leitura, nem o de criticar a leitura realizada pelos alunos,  é necessário que ele repense sua prática, pois aprender a ler significa também ler o mundo e aceitar a leitura do outro, visto que, se cada pessoa é única, cada leitor também o é. Para Martins (1994, p. 34)

A função do educador não seria precisamente a de ensinar a ler, mas a de criar condições para o educando realizar a sua própria aprendizagem, conforme seus próprios interesses, necessidades, fantasias, segundo as dúvidas e exigências que a realidade lhe apresenta. Assim, criar condições de leitura não implica apenas alfabetizar ou propiciar acesso aos livros. Trata-se antes, de dialogar com o leitor sobre a sua leitura, [...]

Para a autora o educador é o mediador da leitura, porém ler e ler bem depende de cada leitor e das condições reais de existência. É necessário que se veja a leitura como instrumento libertador, possível de ser usufruído por todos.

Para Martins (1994), a leitura surge da vivência de cada um e é colocada em prática na compreensão do mundo, no qual o sujeito está inserido. Tal aprendizagem está ligada ao processo de formação global de um indivíduo e sua capacitação dentro da sociedade, na forma de agir, de se comunicar com o outro, bem como sua a atuação política, econômica e cultural. Restringir a importância da leitura a livros ou apenas a textos escritos em geral seria contrassenso.

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