LITERATURA E REALIDADE

A leitura de textos literários, principalmente, no Ensino Médio é muito importante para os alunos, pois é por meio dela que eles descobrem as múltiplas faces da linguagem e entra em contato com diferentes aspectos da Língua Portuguesa. 

Quanto maior a diversidade de textos apresentados, maior será a experiência dos alunos no universo da leitura, o qual é constituído de sonhos, reflexões, fantasias e críticas, ou seja, um eterno oscilar entre ficção e realidade.

A questão é: Como apresentar a obra literária aos alunos, sem que eles achem-na enfadonha e descontextualizada, devido à distância entre a publicação desta e o momento em que eles vivem?

A literatura é um convite à liberdade de expressão, é um apropriar-se da história, é estabelecer uma relação entre o passado e o presente, é a possibilidade de repensar conceitos e refletir, permitindo, assim, um posicionamento crítico, o qual possibilite mudanças em nós mesmos e em nossas ações futuras.

Vamos refletir um pouco. É fácil encontrar a pessoa certa, quando o assunto é amor? Em pleno século XXI, as pessoas não idealizam os seus parceiros? Há problemas que envolvem padres, líderes religiosos? Vivenciamos problemas na saúde e na educação? Há pessoas que se matam por amor? A miséria foi extinta do nosso país? Todas as questões formuladas, aqui, caracterizam problemas em nossa sociedade? 

Se a resposta é sim, bem-vindo ao século XIX,  ou melhor, voltemos ao Jardim do Éden. Todos esses problemas existem desde que o mundo é mundo. Quero ressaltar que não há obra literária distante da nossa realidade.

Experimente ler “Trio em lá menor”, Machado de Assis. Se Maria pudesse, transformaria os dois homens que a cortejavam em um, Colocaria a inteligência de um, na beleza física do outro. Se fosse possível, estaria perfeita a construção do homem ideal.

O que dizer sobre “O crime do padre Amaro”, “O ateneu”, “O nome da rosa”. Quer uma lição sobre hipocrisia, saber o que de fato acontecia nos colégios internos, os crimes que os padres praticavam e como o Clero explorava as viúvas? 
Surpreendeu-se? Mas isso não é nada... Eles matavam em nome de Deus. Conheça a história, leia ao menos um desses livros.

Agora, para quem gosta de histórias de amor e acha que esse sentimento deve ser levado as últimas consequências, leia “Amor de perdição”, “Senhora”, “Madame Bovary”... Sei que tais obras foram escritas, há algum tempo, mas identifique os personagens desses romances em nossa sociedade... 
Morrer de amor, comprar marido e trair,  parecem-me assuntos pertinentes a nossa época.

Ah! E para quem sonha com uma saúde e uma educação de qualidade, não deixe de ler “As pupilas do senhor reitor”, a fascinante história de amor entre o médico e a professora, denotando o sonho de consumo de todos nós: o casamento da saúde com a educação.

E por falar em miséria, degradação moral, exploração (Talvez isso não exista mais em nossa sociedade). Será que estou errada? Existe? 
Então leia “O Cortiço”, mas cuidado, se você for uma pessoa sensível, você sentirá o odor exalando das páginas e conferindo ao leitor as condições sub humanas, as quais eram submetidas as famílias que moravam naquele lugar. Qualquer semelhança com alguma reportagem mostrada na TV, referente a esse assunto, é mera coincidência.... 

Afinal as obras literárias estão descontextualizadas, segundo alguns "seres", e nada tem a ver com a realidade dos alunos. Eu até entendo essa fala, vinda dos alunos, pois cabe aos professores contextualizar essas e tantas outras obras essenciais a formação do senso crítico dos estudantes, mas vinda de colegas de profissão, torna-se incompreensiva a mim.

Sônia Laide